segunda-feira, 11 de novembro de 2013

ART. 05 - Mais Médicos? Não. Mais seriedade! – Parte – I

Sei que o assunto já está algo exaurido em debates, mas vale a pena explorá-lo mais em se considerando um fato novo: o resultado da 1° fase do último Revalida divulgado na semana passada. Revalida é a prova que os médicos formados em outros países realizam aqui para terem seus diplomas reconhecidos pelo governo brasileiro e assim poderem exercer a profissão médica no Brasil legalmente. É a revalidação do diploma profissional adquirido no estrangeiro. A prova é aplicada por uma das universidades federais brasileiras indicadas pelo governo federal.

Faz-se importante explicar ao público leigo porque essa onda de estudantes brasileiros indo estudar Medicina fora do Brasil, especialmente na Bolívia, Peru e Argentina. Será por que faltam vagas no Brasil? Não. Há vagas suficientes para a formação de médicos nas faculdades e universidades brasileiras conforme a demanda desses profissionais para a realidade de saúde pública do país. E nos 15 últimos anos essa oferta aumentou significativamente. Só no Maranhão, 02 novas instituições de ensino superior começaram a oferecer cursos médicos que não existiam há 10 anos (UNICEUMA- São Luís-50 vagas/ano e UEMA-Caxias-60 vagas/ano), além das 100 vagas/ano que a UFMA oferece há décadas. E já está autorizada pelo Ministério da Educação a criação pela UFMA de mais de mais 80 vagas/ano em Imperatriz, 40 vagas/ano em Pinheiro, mais 40 vagas/ano em São Luís, tudo a partir de 2014; e mais 80 vagas/ano em Bacabal a partir de 2015. Mas aqui no Brasil para se estudar Medicina precisa fazer vestibular ou passar na prova do Exame Nacional de Ensino Médio-ENEM. E isso não é para dificultar, mas para comprovar se o candidato a médico tem o conhecimento básico necessário para aprender as complexas disciplinas técnicas dos 06 anos de formação médica. Esses estudantes que vão para fora já foram reprovados várias vezes em vestibulares e no ENEM. Portanto, vão fazer Medicina fora do país porque lá não é necessário vestibular ou nenhuma outra comprovação de conhecimentos para se estudar Medicina. É por isso. Qualquer um que não concluiu o ensino médio e comprou um diploma em qualquer corruptela ou o concluiu mal e porcamente pode chegar lá e se matricular num curso médico, bastando para isso ter dinheiro para a matrícula, mensalidades e custas de viver lá. Já para se estudar Medicina no Brasil tem-se que provar que tem o mínimo de embasamento teórico para aprender as complexas disciplinas técnicas do curso de formação médica; tem-se que saber com maestria o conteúdo do ensino médio. Lá basta ter dinheiro. Aqui precisa ter conhecimentos. E Medicina é a carreira mais concorrida nos vestibulares do Brasil. Não pela exiguidade de vagas, mas pela necessidade do preparo do candidato. E esses estudantes nem português sabem direito já que foram reprovados nos vestibulares daqui. Reprovados aqui vão para lá e são aceitos de qualquer jeito, sem saber nem a língua do país de lá, mesmo as aulas de lá sendo ministradas em Espanhol. Ora, como alunos que nem português corretamente sabem vão aprender medicina em outra língua que desconhecem? Já vi deles escreverem a palavra “educação” com 02 “s” (EducaSSão. Pode?). Começam por aí as deficiências na formação desses estudantes. Fora outras que vamos ver no discorrer desses textos. E a lei brasileira é clara: só é reconhecida a formação profissional no exterior de alguém para exercer a profissão aqui se o método de ingresso na instituição estrangeira que o formou for igual ao método nacional. Isso não é corporativismo. É garantia de profissionalismo adequado. Apesar de haver bons profissionais formados lá e péssimos profissionais entre os formados aqui.

Como alguém vai aprender bem algo que está sendo ensinado numa língua que ele não sabe ou sabe mal? E falo de aprendizado essencial, pois é conhecimento que será necessário para salvar e tratar vidas ou condená-las à morte ou a sequelas permanentes graves. O problema é que a grande maioria de quem vai para a Bolívia não está preocupado em saber a Medicina, mas em ser médico apenas para dar-se bem financeiramente, pois a Medicina ainda é uma profissão que garante algum rendimento mensal aprazível. Situação, infelizmente, igual à de muitos médicos, mesmo formados no Brasil, que pelo sucesso financeiro fazem tudo, até em detrimento de sua própria reputação e do paciente, pois estão procurando trabalho, mas apenas empregos, boa remuneração e salários. Fazer isso é não ter compromisso com a dignidade da profissão e nem com o ser humano e com a vida, mas apenas consigo e com seu próprio bolso.

E o resultado do último Revalida demonstra que tais estudantes, em sua grande maioria, não estão preparados mesmo e têm formação gravemente deficiente. Apenas 9.72% dos que se submeteram esse ano à prova foram aprovados. De 1600 médicos graduados no exterior inscritos apenas 155 passaram para a 2º fase do exame. E olha que foi só a 1º fase da prova – a de múltipla escolha. Na 2º fase, que é de habilidades práticas, discursiva e oral esse índice de aprovação cairá mais. Não considerar esse fato preocupante para a saúde pública brasileira é desconsiderar a importância de nossa própria vida. Apesar de este ser apenas mais um aspecto preocupante na aplicação da política de assistência à saúde em nosso país, pois os erros e problemas são tantos outros e tão graves quanto este em específico. Mas essa educa$$ão de médicos feitos “a facão” na Bolívia não serve ao Brasil.

Como o assunto é longo e quero chegar até o programa “Mais Médicos”, que o governo federal recentemente criou para fazer campanha eleitoral para a reeleição da Presidenta Dilma Roussef, na próxima publicação exponho o complemento desse assunto.


Allan Roberto Costa Silva, médico, ex-Vereador-Presidente da Câmara Municipal de Pedreiras-MA, membro da Academia Pedreirense de Letras e da Associação de Poetas e Escritores de Pedreiras-APOESP. E-mails: allanrcs@bol.com.br e arcs.rob@hotmail.com










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